Está a ser doloroso.

Os dias parecem ter ganho outra cor que não aquela que me deste quando partiste, à muito, muito tempo. Agora, que já consigo aceitar que és feliz de outra maneira que não a nossa, tudo parece bem mais fácil de se enfrentar, até o facto de te continuar a amar. Amar, agora que tudo é mais ameno, sem remorsos, sem mágoas, sem esperanças. Sim, amor, matei a minha esperança, porque tu sabes que não faz mais sentido ela morar comigo na mesma casa nem dormir comigo na mesma cama que já foi nossa em dias que o frio tomava conta da cidade. "Cidade essa que está cheia de vestígios teus, de lugares nossos e de aromas do nosso amor que chama as lembranças que te tenho para o meu peito." E essas lembranças fazem-me esquecer tudo o resto, tudo o que sofri por ti, todas as lágrimas que chorei e também aquelas que o sol conseguiu secar, as manhãs vazias que me fizeste viver e as noites longas e escuras por não te ter. Como vês, tudo era difícil enquanto não me davas esta paz, mesmo que não saibas que me transmites tal sentimento, neste momento. Também nunca pensei carregar tal coisa dentro do peito, visto que todos estes dias sem ti, foram maioritariamente tortuosos para mim. A tua ausência matou-me aos poucos, tirou-me o pouco de bom que ainda restava em mim e corroeu-me o coração aos bocadinhos. E tu sabes que aos bocadinhos, tudo é sempre mais doloroso, não sabes? Um dia destes, em que a coragem se apoderasse de mim irredutivelmente, gostava de mostrar-te este cantinho que criei para desabafar a dor que me dominou desde que me largaste a mão. Para leres, sem qualquer tipo de interrupção e com os teus próprios olhos, a forma como te amei e tudo o que dei por ti durante estes longos meses. Talvez aí, os dias que foram nossos, para ti passassem a ter mais significado do que aquele miserável que guardas agora.