Intoxicação por chumbo causa danos principalmente ao sistema nervoso

A exposição ao chumbo é um sério problema de saúde pública - especialmente em países em desenvolvimento. Porém, os mecanismo envolvidos com a manifestação de transtornos neurocomportamentais em pessoas expostas ao elemento permanecem pouco conhecidos. É o que explica Ulisses César de Araújo, na sua tese de doutorado apresentada ano passado na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), "Comportamento rotacional em teste de nado livre como um modelo em roedores para estudo da neurotoxicidade do chumbo durante a vida adulta".

Segundo o autor, embora a população em geral corra o risco de contaminação pelo chumbo - principalmente através do consumo de água e alimentos -, os trabalhadores de fundições, fábricas e reformadoras de baterias são os mais suscetíveis ao perigo. "O chumbo entra no organismo primariamente por via respiratória e gastrointestinal. A dificuldade do organismo em eliminar grandes quantidades do metal de modo eficiente leva geralmente ao seu acúmulo no corpo. De modo geral, a meia vida do chumbo no sangue é de 35 dias, no cérebro é de dois anos, sendo que nos ossos, ele permanece por décadas", explica.

Para o médico, um dos maiores desafios nos casos de intoxicação por chumbo é como podem ser revertidos os efeitos, visto que não existe um tratamento eficaz atualmente. Ele mostra que, embora o metal cause efeitos tóxicos em vários órgãos e sistemas, é o sistema nervoso o principal alvo da toxicidade do chumbo. "Do ponto de vista neurológico e comportamental, a exposição ao chumbo tem sido associada a uma série de distúrbios. Em particular, os déficits de aprendizado e consolidação da memória, atenção reduzida, diminuição da percepção visual, da destreza manual e da velocidade de resposta, desmielinização, encefalopatia, hiperatividade, alteração da habilidade motora e do comportamento exploratório", diz no artigo.

Ele explica também, em seu estudo, que a idade em que os indivíduos são expostos é um dos fatores mais importantes na determinação da intensidade dos efeitos neurocomportamentais do chumbo. Segundo ele, as crianças são mais suscetíveis à toxicidade do chumbo do que os adultos. "Esta maior suscetibilidade tem sido atualmente atribuída ao fato de que o chumbo é capaz de interferir em eventos cruciais do desenvolvimento neural", explica. Porém, o médico ressalta que a exposição cumulativa ao metal durante a idade adulta também é preocupante e promove alterações neurocomportamentais - em particular déficits cognitivos e motores em indivíduos expostos ocupacionalmente ao chumbo.

O estudo mostra que em crianças o limite tolerável do metal no organismo é de 10mg/dl (miligramas por decilitro) e em adultos, de 40mg/dl.

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