Vomita os gritos.

Vomita os gritos. Fecha os olhos, tapa os ouvidos, desamarra o nó e GRITA, GRITA, GRITA !

Todos eles têm a boca cosida com um fio de prata. Já dispensam o ouro, e fazem poses perante algo que não são. Cosem a boca para não se partirem, são de porcelana, (não lhes toques), e prometem poemas batidos que toda a gente conhece. São tão falsos, vomitam-se uns aos outros e dizem que se amam para aqui e para acolá. De onde saíste, quem te roubou, porque é que ficaste? Posso-te amar? Deixa-me lamber as tuas feridas, sou-te fiel, prometi palavras minhas e resumi tudo ao "A", depois acrescentamos o "-te" sem nada pelo meio e as palavras já se encaixaram por si. GRITA-AS ! Grita cada palavra pregada à garganta, à barriga, e às mãos. É só uma questão de duas bocas se cruzarem com tudo o que têm para dizer. Nenhuma letra foi gasta, nem houve frases por apagar. Eles dispensam ouro, nós dispensamos borrachas, por isso agarra num lápis e desenha-me um barco com um rumo para ti. Quero amor quente, quero imperfeições, quero sinceridades, quero arder. Que queres tu? Que querem eles? Que fio eles escolheram hoje? (...)