Rir é o melhor remédio

Se um dia destes passar por um grupo de pessoas sentadas num jardim às gargalhadas, não se admire, pode muito bem ser uma sessão de ioga do riso.

Surgido em 1995, na Índia, depressa se multiplicou por várias nações, como um vírus de boa disposição que tem ganho milhares de adeptos. Começou com um pequeno grupo liderado pelo médico Madan Kataria, quando este pediu a uns amigos para se juntarem e contarem umas anedotas num jardim em Bombaim. O objectivo era descobrir os benefícios do riso para um artigo que estava a escrever.

As anedotas esgotaram, mas a vontade de rir não, por isso as sessões continuaram e o médico percebeu que não era necessário haver motivos para rir. Afinal, o riso é contagiante, basta um começar. Se a isso juntarmos exercícios de ioga, então temos uma actividade muito saudável.

As sessões demoram normalmente entre uma hora a uma hora e meia. Começa-se por uma apresentação da actividade pelo facilitador, ou embaixador do riso, depois parte- -se para a parte de alongamentos e exercícios de respiração profunda, uma espécie de preparação para a risota que se segue, sempre mantendo o contacto visual com os outros.

Nesta fase da sessão, de aproximadamente meia hora, a ideia é rir em grupo, muito, como se não houvesse amanhã, enquanto se fazem exercícios em conjunto ou individualmente, com o objectivo de alcançar uma sensação de bem-estar e alívio, desinibição e relaxamento. Para finalizar, todos se deitam e acalmam as emoções.

Margarida Valente foi uma das pessoas que passaram pela experiência e conta-nos como foi: «Ali perde-se a vergonha de olhar para outra pessoa e rir e isso vai fazer com que a outra pessoa também ria, porque é contagiante. Dá uma sensação de leveza e simplifica processos que às vezes complicamos.

Um dos exercícios foi rir da conta telefónica, por exemplo. É uma espécie de desbloqueio, há uma altura em nos sentimos completamente soltos. É muito gratificante». Para Fernanda Alves foi também um «imenso prazer», como explicou à Chocolate: «Fiquei com uma enorme sensação de alívio no peito. Andava com um aperto e desapareceu. Ao mesmo tempo que rimos, abrimos essa zona. É muito bom. E as pessoas perdem o medo de olhar nos olhos umas das outras: muitas vezes, quando falamos com alguém, estamos a olhar para o lado; ali não, há muito contacto visual enquanto rimos».

Este bem-estar físico tem uma razão científica. Ao rir, libertamos endorfinas, uma das «inas» que criam as sensações de prazer, de calma e bem-estar. Além disso, melhoramos o funcionamento do nosso diafragma, o que vai fortalecer o coração e os pulmões. Em gargalhadas combatemos a ansiedade e repomos energia, aproximamo-nos dos outros e facilitamos o poder de comunicação.

Para um mundo que vive numa fase de transição/crise económica, esta tem sido a nova escapatória para muitas pessoas, incluindo nos Estados Unidos, país onde muito se sofre de distúrbios emocionais causados pelo stress.

Está provado que rir sem razão aparente e em conjunto melhora a saúde e o humor. Hoje em dia, existem seis mil clubes de riso repartidos por sessenta países. A risoterapia tem sido usada também como actividade em acções sociais, procurando dar alegria a situações que pouco têm de alegres.

Nos hospitais, é desde há anos uma ajuda preciosa no melhoramento da qualidade de vida de muitos pacientes. Trata-se, portanto, de um assunto sério, com direito a ciência do riso, a gelotologia. São vários os médicos e cientistas que ao longo dos tempos têm estudado os benefícios do riso na saúde, entre eles Patch Adams, retratado num filme por Robin Williams, baseado na história verdadeira daquele médico, fundador da comunidade Gesundheit Institute.

«Rir é o melhor remédio» deixou de ser um ditado popular e passou a ser uma disciplina. Aliado ao ioga, é um bom exercício, alternativa a quem não quer ir para o ginásio para ficar com uma cara séria em frente a uma passadeira.

sapomulher