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Há dias assim.

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Post by ritandrade Sat May 29, 2010 5:00 pm

” Há dias em que é preciso sonhar alto demais, para que depois, um dia quando cairmos, aprendermos a levantar-nos sozinhos. Há dias em que é preciso sair da rotina, entrar em lugares desconhecidos, ouvir gritos desesperados, inspirar o ar mais ardente que se possa imaginar, chorar com a dor da queimadura e gemer silenciosamente. Há dias em que é preciso sofrer demasiado até sentir o coração desfazer-se em pedaços minúsculos. Há dias em que é preciso estar calada, ouvir o que não queremos sem murmurar uma única palavra. Há dias em que é preciso ouvir a voz do sofrimento, o eco do seu apelido. Há dias em que é preciso chorar sem motivo, choramingar sem significado, molhar a camisola de um homem que nos tenha marcado. Há dias em que é preciso sentir a pulsação nas veias, dar graças por estarmos vivos e termos aqueles que amamos. Há dias em que é preciso pegar num faca e rasgarmos um pouco da nossa carne, fazer com que arda o nosso corpo. Há dias em que é preciso dor, sofrimento silencioso, berrar até a garganta sangrar, pegar numa tesoura e cortar o cabelo, massacrar-nos até que a nossa voz meta arrepios, olhar nos olhos e ver loucura. Há dias em que temos de saber abandonar, conhecer o frio do gelo, pregar com água terrivelmente gelada no nosso rosto. Há dias em que é necessário fechar os olhos, acordar com pesadelos horríveis, gémeos com a nossa realidade, é necessário sentir os cabelos a esvoaçar com vento e saber exactamente de onde ele vem e quem trás. Há dias em que é preciso erguer a cabeça, começar de novo, não julgar aquele que deve julgamento, trancar todas as recordações do passado e construir um novo livro, uma nova resma de papel, muito mais protegida do que a anterior. Há dias em que é preciso formatar o nosso computador, mudar de músicas, apagar as fotografias que outrora nos fizeram tão felizes, tentar não ver sempre que sonhamos, trocar de sentimentos sempre que acordamos. Há dias em que é bom desistir de nós mesmos, passar a odiar cada pedaço de nós, esquecermos as nossas origens e viver em função dos outros, dos seus intuitos, jogar, de uma vez por todas, todas as cartas neste jogo e encarar que mais uma vez saímos derrotados. Há dias em que é óptimo sermos mendigos, realizar todos os desejos que na outra vida eram imagináveis, tornarmo-nos ainda mais minúsculos perante outros. Há dias em que é preciso subir o prédio mais alto, ver a cidade sem ela nos ver, sentir sem ser sentido, amar sem ser amado, bater com o corpo no chão, bater com a mão em punho numa parede e não sangrar. Há dias em que é preciso esquecer tudo, há dias em que é preciso que tudo seja expulso da cabeça, completamente aos gritos. Há dias em que tudo o que aconteceu seja ultrapassado. Há dias em que é preciso voltar a sonhar com irrealidades, que nos aumentem a auto-estima, correr pelos novos caminhos, procurar por um novo mundo e fazer dele o nosso novo lar. Há dias em que é preciso dar importância ao passado, saber que um dia fomos tudo para alguém, e mostrar ao novo mundo que somos mais fortes do que aquilo que alguém possa ter imaginado. Há dias em que é preciso voltar a acreditar em nós e termos a noção que somos capazes. Há dias em que é preciso perder todos os sentidos e andar ao lado de pessoas desconhecidas para sabermos o que realmente foi importante. Há dias em que é preciso saber o significado de sofrimento, para perceber que tudo não passa de um sonho, chamado: saudade. "

Fui eu que escrevi, para uma pessoa que nunca mais terei $:
ritandrade
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